A visita da esperança
Em mais uma noite insone quando os sonhos parecem que criam asas reais e duelam com o corpo cansado que merece acalanto algo despertou a minha atenção.
Pousou em minha vida uma esperança...
Contudo não aquela tênue irrealidade que me abastece de quimeras, mas uma esperança, verde e frágil inseto, que insinua andar num balé delicado e etéreo.
Ela, a esperança sempre perpetuou a minha infância como um anunciar de belezas a chegar e hoje vem dizer ao meu ser amadurecido que continua distribuindo farpas de luz e lampejos de expectativas.
Ainda!
Precisava desta visita. O encanto que envolve o ser humano de sempre ver a vida a sorrir descansou por um tempo em minha vida, talvez para insinuar que a força vem da crença e do empenho em lutar. Por isso eu precisava desta visita. Como um anunciar de sentimentos que chamamos do mesmo nome do verde e frágil inseto. Para eu não desistir da luta.
A esperança pousou de mansinho na tela do computador... Observando meigamente o seu pouso para não atrapalhá-la, deslizo os dedos pelo teclado (numa preocupação de paz e respeito pela visita) e deixo que sua presença faça o que quiser naquele instante congelado.
Lentamente, como se não tivesse pressa para andar ou voar, ela procurou o sem bem estar pisando as letras ...l, k, j, h...e fez a minha imaginação acender e (re)ver ali uma brincadeira infantil - amarelinha - que tanto me encharcou de felicidade.
Ah! A importância da vida!
Hipnotizada pela cena dei as mãos à Lispector, a grande Clarice, que em uma crônica de 1969 também reverenciou a visita do verde e frágil ser...” mas como é bonito o inseto: mais pousa que vive, é um esqueletinho verde...”.
A esperança pousou em minha vida!
Ela saltou em dimensão incomensurável explodindo em significados não-metafóricos totalmente verdadeiros Ela é o “insight” que permeia os pensamentos, indagações, buscas de respostas que, talvez, nunca chegarão ao coração, contudo permanecem. Ela sinaliza também o recado de amor sob a certeza de viver em outra essência para tantos afins amados, são os questionamentos preenchidos, carinhosos afagos na mente que viaja com a dimensão da luz.
A esperança pousou em minha vida!
Como eu desejei um sinal igual aos anseios de tanto tempo atrás: a mesma imagem pequenina que se instalou nos meus castelos de sonhos infantis e se expandiu diante de meus olhos extasiados de surpresa como o aviso de boas novas, de confirmação do porvir de luz.
E por isso eu acreditei. Sempre!
Observo aquele ponto verde claro no teclado que pousou diante de meus olhos desestimulados de vida. Até quando perdurará a sua essência nesta noite insone a me fazer companhia?
Até quando a minha incontida dor do e pelo mundo, enganando-se, escutará as fábulas que um Esopo entristecido tentou eterniza-las na Menina que um dia eu fui como enganos dos sentidos e transformou-se numa Faxineira de Ilusões ?
A esperança pousou em minha vida!
Aquieto-me no que vejo... Ela prepara-se para despedir-se de mim na noite insone...
Que poder tem esse bichinho saltador (agora visita as letras b, v, c, x para alçar voo...) para bailar em minha mente e embaralhar os desenganos e decepções que são companheiros constantes e indesejados em mim? Por que agora permanece intacta (apenas os olhos movimentam-se...) como a esperança irreal e tênue que ampara minhas quimeras?
Que poder tem o verde e frágil inseto que, mesmo depois que foi em busca de outro espaço, deixou a sua mensagem e voou, voou, voou?
Seria um recado que quis deixar ? Quem saberá responder ao meu coração se acertei no entendimento de seu pouso na tela do computador na noite que não me deixa dormir?
A esperança pousou em minha vida!
Verde, frágil, uma bailarina natural (como a minha borboleta bicolor que um dia pousou e pereceu na parece), o encantamento de minh’alma.
Eu precisava desta visita!
Ana Virgínia Santiago é jornalista, poeta e cronista no sul da Bahia.